O Brasil perde Lelé,
o arquiteto que uniu arte e tecnologia
–
o construtor!!

Considerado por Lúcio Costa um dos três mais importantes nomes da Arquitetura Modernista Brasileira, “o arquiteto onde a arte e tecnologia se encontram e se entrosam – o construtor”, na manhã de hoje (21/05), em Salvador, o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé. Ele foi responsável por obras que transformaram a forma como o Brasil olhava sua Arquitetura. Desde o trabalho na construção de Brasília, passando pela criação da Fábrica de Escolas do Rio de Janeiro e do Centros Integrados de Educação Pública no Rio de Janeiro (ambos em parceria com Darcy Ribeiro) pela Fábrica de EquipamentosComunitários em Salvador até o desenvolvimento do Centro de Tecnologia da Rede SARAH de Hospitais, ele soube como ninguém unir técnica e arte, função e sensibilidade.
Lelé estava há longo tempo enfermo em decorrência de um câncer. Seu corpo será velado na Igreja do Centro Administrativo da Bahia, das 7h às 12h, e depois transladado para Brasília, onde ocorrerá o sepultamento, na ala de pioneiros do Cemitério Campo da Esperança. Natural do Rio de Janeiro, tinha 82 anos. O arquiteto deixa três filhas e três netos.

Para Haroldo Pinheiro, presidente do Conselho, “a morte de Lelé significa a perda de um profissional de extrema solidariedade, comprometido com a dimensão ética da arquitetura, que colocou seu domínio completo da arte de projetar e construir a serviço sobretudo de obras públicas em programas sociais. Por falta de uma cultura arquitetônica maior, o País talvez não tenha conhecimento exato dos méritos dele, do quanto ficamos empobrecidos culturalmente nesse momento. E justamente quando a sociedade exige cidades com espaços e equipamentos coletivos de boa qualidade, frutos de propostas criativas, uso com sabedoria da tecnologia e economicidade. Além disso, do ponto de vista pessoal, perco meu mestre e amigo, pois com ele trabalhei de estudante até agora”.
O arquiteto brasileiro será um dos homenageados da 14a. Bienal de Arquitetura de Veneza, que começa no dia 7 de junho. Sob o título “Fundamentais”, a Bienal se propõe a apresentar como as arquiteturas nacionais absorveram a modernidade e como eventualmente a mantiveram. Lelé será apresentado como uma espécie de ponte entre os arroubos formalistas da primeira fase do modernismo no país e o uso desse repertório em obras mais funcionais.



COMEÇO DE CARREIRA – Carioca do subúrbio, ex-aluno da Escola Militar, depois músico boêmio e, finalmente, arquiteto e urbanista, Lelé ganhou esse apelido ainda criança, jogando futebol, por conta de um jogador do Vasco, meia-direita, posição preferida do arquiteto. Formou-se na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1955. Dois anos depois, aos 25, estava em Brasília, meio que empurrado pelos seus colegas de trabalho, que não viam grandes benefícios em abandonar a Cidade Maravilhosa para construir uma cidade no meio do Cerrado.
Candango legítimo, meteu-se em todas as etapas da construção: projetos, fundações, instalações elétricas, cálculos. Ouviu de Oscar Niemeyer, autor da cidade: “você vai resolvendo as coisas lá”. Repetiu a experiência e a parceria com Oscar na Universidade de Brasília, em 1962. Foi nessa época que conheceu Lucio Costa, quando ia ao Rio de Janeiro mostrar os projetos para a Colina, área residencial para os professores.
Foi nessa segunda oportunidade que ele desenvolveu técnicas de construções pré-fabricadas, algo ainda novo no Brasil, à época. “Era necessário tomar um conhecimento maior do problema técnico da obra. Então Darcy Ribeiro arranjou uma viagem para os países do Leste Europeu para que eu pudesse me especializar”, contou. “Não é que eu tenha vocação para ser construtor, mas acho que fui lançado nessa linha de trabalho”, dizia Lelé.
O sonho de fazer uma grande universidade com uma técnica inédita foi interrompida pelo golpe militar de 1964. Deixou a docência na demissão coletiva na UnB, mas logo depois recebeu de Oscar Niemeyer a tarefa de projetar o Hospital de Taguatinga, o primeiro projeto hospitalar de muitos que se seguiriam na carreira de Lelé. A partir daí, investiu cada vez mais nas suas pesquisas inovadoras, para hospitais e outros equipamentos públicos.
AMIGOS – Em seu livro autobiográfico, “Registro de uma Vivência”, Lúcio Costa menciona Lelé como um dos membros de tríade emblemática da arquitetura modernista brasileira, completada por ele próprio e por Niemeyer. Nas suas palavras:
“Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares, arquiteto artista: domínio da plástica, dos espaços e dos voos estruturais, sem esquecer o gesto singelo — o criador. João da Gama Filgueiras Lima, o arquiteto onde arte e tecnologia se encontram e se entrosam — o construtor. E eu, Lucio Marçal Ferreira Ribeiro de Lima e Costa — tendo um pouco de uma coisa e de outra, sinto-me bem no convívio de ambos, de modo que formamos, cada qual para o seu lado, uma boa trinca: é que sou, apesar de tudo, o vínculo entre o nosso passado, o lastro — a tradição.”
Essa admiração por Lelé era acompanhada por Oscar Niemeyer. “Grande mestre da Arquitetura, mas tão humano e modesto que ainda encontra tempo para ver os amigos, bater papo, tocar seus sambas, pois, como eu, deve saber que tudo isso é muito mais importante que a Arquitetura”.
PRÊMIOS E HOMENAGENS – A contribuição à Arquitetura foi reconhecida por meio de diversos prêmios e homenagens. Uma das mais importantes foi a conquista da Medalha de Ouro da Federação Pan-Americana de Associações de Arquitetos (FPAA). A mais importante premiação de arquitetura das Américas, foi entregue ao arquiteto carioca durante o XXIV Congresso Pan-Americano de Arquitetos, em 2012.
Em 2001, já recebera o Grande Prêmio Latino-Americano na 9ª Bienal Internacional de Arquitetura e por duas vezes o Prêmio da Bienal Ibero-Aamericana de Arquitetura e Engenharia (em 1998 e 2002). No ano passado, foi um dos vencedores do Prêmio Jabuti com o livro “Arquitetura: Uma Experiência na Área da Saúde” (Ed. Romano Guerra)
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